Páginas

domingo, 30 de junho de 2013

Liberdade

Acabo de sair de uma ~sessão de cinema~ aqui em casa e me deparo emocionado com o que acabo de rever. Get Real (No Brasil o tenso título Saindo do Armário) eu vi pela primeira vez quando realmente ~sai do armário~, e meus caros, colegas amigos de profissão isso já fazem uns 7 anos. E na época não me conectei com a loucura do filme porque o que Steve passava eu também estava a passar. Se apaixonar por alguém que nunca vai se assumir e que se oprime juntamente com sua tenra ingenuidade é de cortar os pulsos e claro, querer uma corda. Conheci muitos que não aguentaram a pressão e se suicidaram. Se torna clichê mas não é, é um assunto sério. Não sei se cheguei a compartilhar aqui que um dia desses liguei pra um amigo meu, na realidade não éramos BFF's. Longe disso. Uma vez quando fui pra cidade do meu pai, nos conhecemos, tivemos um pequeno affair e claro, nos tornamos amigos de facebook. Mas voltando ao que interessa, esses dias liguei para o celular dele porque queria vê-lo de novo, afinal, planejo ir pra Curitibanos e precisava vê-lo. Liguei, liguei e liguei. Nada de atender. Minutos depois um número estranho me retorna e pergunta o que eu queria com fulano de tal. Falei que tínhamos uma amizade e tals, quando de repente a voz embargada da mulher começa a desabafar. E eu aflito não sabia nem o que fazer. Foi aí que perguntei o real motivo pra tanto chororô, achei que ele estivesse internado, doente, sei lá. Foi quando ela começou a me contar que dessa vez o suicídio havia dado certo.

Fiquei extremamente chocado.

Toda vez que conversávamos ele me dizia que ia se matar um dia, mas eu sempre o levei na brincadeira. Sempre disse a ele que era lindo, que não precisava disso, que um dia seu lugar ao sol seria tomado e que um dia ainda ele seria muito feliz. Bullshit. Ele não acreditou em mim. E não acreditou nele. Foi lá um belo dia, tomou uma copada de remédios, não deu certo, pegou uma corda e finalizou. Selando a tristeza dos seus familiares e amigos que até hoje não o esqueceram. Conversei com o namorado dele e ele me disse que uma semana antes eles haviam brigado e o coração dele estava em pedaços. Eles estavam uma semana sem conversar e ele achou que era o culpado. Mas quem conhecia ele, sabia que não. Ele era triste, oprimido. Seu pai o rejeitou. Desde o ventre. Sua mãe tomava remédios fortes e até hoje acho que ela não bate bem. Isso eu só sei porque conversei com familiares. Ele nunca me contou isso. E por quê eu reflito hoje em cima de Get Real? Porque o mesmo gay enrustido que é Jhon Dixon (Brad Gorton) nesse filme de 1998, é os mesmos que estão por aí. Enganando suas mães, suas mulheres, seus colegas de escola. O mesmo Jhon Dixon de 1998, é o mesmo cara que fica escondido com a paixão gay e o mesmo que espanca a paixão gay na frente dos amigos.

Steven (Ben Silverstone) somos nós. Os que tem talento para prática suicida. Aqueles que sofrem calado os deboches dos "héteros". Aqueles que são obrigados a ficar ouvindo piadinha idiota em banheiro masculino. Steven é aquele cara que coloca uma corda no pescoço quando não aguenta mais a pressão da sociedade. No final de Get Real nada demasiado exagerado acontece. Ele mostra a real life. O contato continuo. E que nem tudo é feliz. Mas também nem tudo é morte e solidão. Mas, quantos Steven's já conheci? Quantas vezes senti o mesmo amor que Steven sentiu. Quantos Steven's nós mesmos já matamos? Sabemos que a pior e mais dolorosa morte ainda é aquela que colocamos uma máscara de felicidade pra mostrar pros outros que estamos bem quando no fim, estamos precisando extravasar tudo que há dentro da alma e do coração.

Se você não viu Saindo do Armário fica aqui a minha dica, você tem que ver. Ainda mais se você tem "problema" com gays. Tem online e tem pra download. E tem pra vender. Reflita também. E pare de se importar com a vida sexual dos outros. Pare de achar que é LINDO você ficar rindo das pessoas por elas serem gays, bissexuais, transexuais. O mundo é BEM maior que teu quarto, como diria os filósofos da Banda TNT.

E viva Aretha, que canta a liberdade lindamente.