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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A loira do banheiro


2042

havia esse pequeno comércio na cidadezinha pacata que chamavam de Itaiópolis, lá o pôr-do-sol nunca havia chegado. os dias eram cinzas, estranhos. os ratos corriam pelos bueiros abertos dos bairros abandonados. algumas das cobras que ficaram por ali continuavam cuidadosas, nas janelas, somente esperando alguém aparecer pra dar o bote certeiro. ali havia também esse grande homem que ficava esperando todos os dias pela sua amada. ele dizia que ela era loira, tinha olhos azuis, pele branquíssima, alta e linda. sua loja de doces estava indo a falência porque na cidade não havia mais ninguém.

o único bar da cidade era aberto 24h. e somente 4 homens o frequentavam. os que ainda tinham coragem de sair de casa. porque rezava a lenda que no ano de 2012 uma onda de assassinatos atingiu a pacata cidade, o assassino matava mulheres entre 15 e 18. e uma dessas meninas mortas era a filha desse senhor que contei no começo da história. ela foi morta no banheiro da escola da cidade. ela tinha 16 anos. a cidade então, perto de 29 de outubro lotava de visitantes. freaks da região que gostavam de explorar o lugar.
pois lá já não havia mais ninguém.

esse mesmo senhor que já falei dizia pra todos os visitantes que sua filha estava perto, sua amada, sua loirinha. os visitantes que passavam pela sua casa e seu comércio que estava as moscas e que havia virado referência se assustavam com tamanha loucura nas palavras do senhor. o guia turístico do próximo grupo de jovens que visitaria as casas abandonadas do lugar naquela noite colocava medo em todos. mas como era em 2012, ninguém ligava. diziam ser loucura urbana. e era!

o guia turístico meio bêbado levou os jovens até a escola da cidade. lá onde os tais assassinatos aconteceram. chegando na tal escola, no fim do dia, era muito, mas MUITO escuro. os vidros continuavam intactos, a grama somente havia morrido, o resto estava impecável. os jovens estavam abismados. o guia tentava assustá-los em cada porta aberta no colégio mas não funcionava. foi quando uma jovem do grupo foi até os banheiros, e lá, um dos espelhos tinha uma marca de batom recente. ela achou então que alguém recente havia passado por ali. pegou na sua bolsa seu batom e foi fazer a mesma coisa, sem perceber, enquanto mexia na sua bolsa os vidros começaram a suar. e de repente, o pai da menina aparece atrás dela. ela leva um susto e o indaga gritando assustada o por quê dele estar ali. ele começa a rir. os amigos notam a falta da menina e vão atrás, mas quando passam pelo banheiro feminino não ouvem nada.

o pai da menina começa a rir mais alto e a gritar com ela. dizendo que é uma vagabunda como todas as outras que haviam passado por ali nas últimas semanas. a menina gritando assustando desesperada é atingida por um tijolo na cara. no tijolo estava as iniciais do colégio da cidade (EEBVV). ela tenta levantar meio zonza quando sente sua roupa ser arrancada pelo velho. ele a estupra. depois, enxarca seu corpo de gasolina e começa a gritar que foi assim que sua linda filha loira morreu. os amigos desesperados sem encontrar ela, vão pra cidade vizinha pedir reforço. a menina acorda toda ensaguentada e com cheiro de gasolina, vê o pai da menina fumar um cigarro. e começa a chorar mais ainda. ele a manda fechar a boca. de repente abre-se a porta, e ela acha que é ajuda.

é a menina. a loira, a loira do banheiro. ela morreu ali. seu espírito ficou ali, preso. ela se junta ao seu pai e o agradece pelo o que ele fez. o pai então, joga o cigarro e sai dali, tranquilo. a menina sem forças, tenta pular a janela do banheiro, e consegue. ela encontra um cemitério atrás do colégio com corpos mutilados. de repente olha pra janela, a loira esta lá entre as chamas. ela corre, corre e corre. seus amigos chegam com a polícia e a resgatam. ela conta tudo o que aconteceu. então, a polícia diz que não tem como ser o velho senhor. e ela garante que era ele. em lágrimas conta sobre o estupro e tudo. ela garante que não conhecia a história. e então o guia turístico diz que o senhor morreu logo depois que sua filha foi dada como morta. o olhar da loira do banheiro fica fixado na mente da garota. e ela desde então, faz terapia pra tentar se recuperar.

e dizem que em todo outubro, o mesmo senhor senta na sua varanda e fica olhando o interior. e que de segunda à sexta, naquela cidade vazia, sua loja continua aberta.