Depois da ultima confusão no bailinho, Carlos Eduardo vai
atrás de Renato pra entender o porquê daquelas palavras tão duras. Renato esta
sentado no banco em frente a sua casa. Sóbrio.
Carlos Eduardo: Posso?
- Fazendo sinal para o banco onde Renato esta sentado – Ou você vai me
bater de novo?
Renato: Sério mesmo que você veio ate aqui me incomodar?
Carlos Eduardo: Quero conversar. Desde quando voltei pra
cidade você me trata mal, me despreza. Era como se tudo que vivemos foi
apagado, foi jogado fora.
Renato: Muito pelo contrario, eu tento fugir de você. Você é
que não deixa. –Ele senta, Renato troca a posição do cruzamento de pernas para
a direita.
Carlos Eduardo: O que aconteceu com a gente? Por que tudo
isso? No ultimo minuto quando eu estava embarcando você simplesmente disse que
não queria mais nada comigo. Desde então, volto, e você continua a mesma porra
louca pro meu lado. Até me bateu. – Renato olha pra ele e sorri – Sempre entendi
seus surtos mas esse...
Renato: Não nascemos um pro outro, Carlos Eduardo. – fita os
olhos nele – Você nasceu pro mundo, você nasceu pro escândalo, pra doidera de
noites insanas. Você não nasceu pra mim. Nem eu pra você. Eu sou o copo cheio.
E você também é. Na física isso não da certo.
Carlos Eduardo: Você tem tanta certeza disso não é? Queria
saber...
Renato: Sabe quem combina com você? Sua amiga trava. Afinal,
combinava muito quando peguei vocês dois transando, minutos antes de você embarcar.
Lembra?
Carlos Eduardo: É isso então? Todo esse ódio alimentado por
mim?
Renato: Não bebê. Eu é que já sabia que ela havia nascido
pra você. Você gosta dela, tem mais é que ser feliz. Naquele dia só abri os
olhos, naquele dia só entendi o real motivo de um dia termos caído na rede um
do outro. Você me ensinou muito. Afinal seu inglês e espanhol é tão excitante
que eu me arrependo de não ter ido a Austrália com você. Hoje em dia, não há ódio
nenhum. Eu te amei. Não há o porque te odiar hoje em dia. Você me fez feliz. Você
entendia meus surtos, você calculava tudo exatamente para me agradar, você me
fez ser um homem muito feliz. Mas infelizmente essa nossa sina fica ali,
gritando, "hey vocês dois, vocês não são almas gêmeas."
Carlos Eduardo enche os olhos de lagrimas
Carlos: Eduardo: E existe? Essa coisa de alma gêmea? Eu sempre achei que você fosse a minha!
Renato: Sabe de uma coisa?
Carlos Eduardo: Hum...
Renato: Se eu tivesse perdoado aquilo na hora, e continuado,
não teria conhecido uma pessoa maravilhosa hoje.
Carlos Eduardo: Mas você veio pra casa por causa dele não foi?
Você esta chorando por ele!
Renato: Gays, goys, bichinhas, veadinhos. Nós somos da trupe
do choro. Muitos de nós são fortes, grandes homens e mulheres políticos,
socialistas, cambistas, amadores da força extrema. Mas a cama, o lugar quente é
que sabe quem são os fortes. Nós achamos desculpa pra chorar por qualquer
coisa. Nós procuramos agulha no palheiro pra isso. Nós amamos a expressão. Uma
delas é o choro. Choramos de alegria, por picas grandes, por transas
extravagantes, choramos por futebol, moda, finais de série, términos de namoro,
homens que estão longe, homens que não assumem, homens, mulheres. Somos todos
assim. Choramos. Botamos pra fora. Eu não seria diferente.
Renato sorri para Carlos Eduardo, e se levanta.
Carlos Eduardo: Me perdoa? Eu nunca devia ter escondido
aquilo, eu posso te explicar tudo pra nada ficar subentendido.
Renato: Não bebê, não precisa. Seguimos em frente. Passou. E
depois, o Rômulo essa hora deve estar vindo e eu não quero que ele nos veja
juntos. E eu espero que nunca mais, voltemos a brigar ou a discutir. Nem a nos encontrar.
Carlos Eduardo: Eu deixarei você em paz. – Um sorri pro
outro – Mas eu acho que ainda, você é o amor da minha vida. Você é minha alma gêmea.
Os dois se abraçam.