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terça-feira, 6 de maio de 2014

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tem esse texto da Carolina Mendes, o qual sou fã, toda vez que leio eu choro. passei uma turbulência nos últimos dias mas me recuperei. me levantei e segui em frente. só que ao reler esse texto, chorei, porque o texto é tão real que nem se fosse fictício eu acreditaria que tudo isso não seria verdade. resolvi incorporá-lo ao blog porque ainda dói. se reerguer das cinzas tem dessas recaídas. o amor as vezes prega peças e o surreal desperta sentimentos estranhos.

leião. vale a pena.

I carry your heart in mine

por Carolina Mendes

Eu tinha um caso com um homem casado.
Não chamávamos de caso, chamávamos de noivado. Estávamos noivos. Fazia tudo parecer menos sórdido, e dava a correta dimensão do que isso significava pros dois. Era uma coisa que vinha antes de uma outra coisa que seria um não casamento. O plano era não casar e viver feliz pra sempre.
Lindo, carinhoso, bom amante, inteligente, bem humorado.
Tinha, não tenho mais.
Acabou, Morreu.
Já usei essa frase antes, mas nesse caso foi assim mesmo: morreu. Não o amor, o amado.
Ele morreu. Ontem, acho. Não entendi nada do que me disseram depois do “Nome delemorreu”. Enfartou. Morreu.
Fiquei com as mensagens de texto, os e-mails, quase um ano de lembranças.
E eu não posso ir no velório, eu não posso ir no enterro. O amor que a gente tinha agora só existe no que eu me lembro. E eu me lembro de muita coisa agora, mas eu sei que com o tempo os detalhes se perdem, e a vida continua. E eu quero guardar os detalhes. Todos eles. Eles eram tudo que a gente tinha, os olhares cúmplices, as ligações no meio da noite nos seus infinitos plantões, que mais que outra qualquer coisa, eram um jeito que você encontrou de se poupar das “donas patroas”.
Já enterrei muita gente, mas ele eu nem posso enterrar.
Mas você vai ficar no mesmo cemitério que meu pai, já me contaram. Mais um retângulo de grama pra deitar e chorar por tudo que não aconteceu. Tudo que eu não tive chance de fazer.
Eu esperei, você esperou. As coisas se resolverem. A gente tentou diminuir o estrago que causaria mantendo tudo em segredo. Não tiveram o mesmo cuidado com você. Não te cuidaram, não te pouparam, não te deixaram viver além dos interesses egoístas que eles tinham.
E você criou um pitbull sanguinário dentro do peito. É humanamente insuportável, eu repeti milhares de vezes. “Não dá pra viver assim, meu amor. Vão acabar te matando”. Mataram.
Causa da morte: vida infernal. Carrasco: infarto.
Que me resta? Escrever esse post chorando, ouvir Nina Simone, sonhar que você ainda um dia vai ligar.
Só que você não vai ligar. E, fiquei aqui sozinha. E eu não quero que minha cabeça deixe nenhum detalhe ser esquecido. Tô chorando de saudade de você, do que a gente não teve e de medo dos detalhes escaparem. Queria ligar pra poder me despedir e dizer mais uma vez que te amo. Só mais uma vez. Não posso.