Páginas

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Cartas

Para o escondido



Nunca assumiremos nosso romance.

NUNCA.

Isso eu já esperava desde o primeiro dia que a gente ficou. E eu também não posso exigir nada de você porque também você AINDA nem assumiu sua opção.
Não que precise, não me interprete mal. Nem sou também mais a favor do "escancaramento" de opção. Acho que cada um é cada qual e ninguém precisa de saber se o outro é ou não é.
Estou decidindo que vou parar de fumar. Vou parar de beber. E vou parar de ligar pra você.
Mesmo que você só se lembre de mim quando esta na "seca" eu sei que no fundo, BEM lá no fundo sua vontade era sair desse armário enorme e escuro que você vive e ser igual a mim.
Você já viu quantas vezes apanhei da vida, você já presenciou quantas piadinhas a vida contou pra mim, de mim. Eu morri? Não. Muito pelo contrário. Isso me deu uma força muito mais forte pra continuar.
Você poderia se assumir porque é solteiro, é jovem, é bonito.
Mas não, você prefere ficar enganando as menininhas bobinhas do ensino médio com sua pose de ~sou fodão. Triste.
Eu deveria mesmo tacar fogo na sua casa. Ou então bater em você. Ou então pior, dar um tiro na sua cara. Mas não conseguiria viver sem você. Sem te encontrar escondido pelo menos uma vez na semana. Eu comecei essa carta tentando ser superior e dizer que vou parar de pensar em você mas tá difícil.
Isso eu não esperava que aconteceria. Nossa primeira vez juntos não foi tudo aquilo, confesso.
Aos poucos fui me apaixonando. Aos poucos fui me entregando.
Aos poucos fomos nos conhecendo.
E o que aconteceu?
A gente se perdeu. Ainda na escuridão do seu grande armário.

Nunca assumiremos nosso romance.

Poderíamos assumir uma amizade. Mas acho que não conseguirei.
Você é uma mulher presa num corpo de homem.
Você é o verbo que eu não inventei.
Você é a decadência dos meus princípios.

Mas eu ainda estou aqui, esperando você decidir se um dia ainda poderemos nos amar.
Posso cansar de esperar.
Você pode se cansar de mim.
A vida é esse ciclo escroto e infeliz.
Ou as vezes doido e megalomaníaco.

Nunca assumiremos nosso romance. Nem sei se existiu um.
Mas se existiu, um dia ainda as pessoas saberão.

Do seu ex colega de fossa, 


Mateus Bonez.