Depois de assistir ao vídeo onde Misael e Ulysses estavam
juntos, na cama, Fernanda não sabia por quem começar a conversa. Ela estava
indignada com aquilo. Ela não se conformava em ser trocada pela bicha do
bairro. Naquela tarde então, ela tomou seu banho de sais, escolheu sua melhor
roupa e foi ao encontro de Misael no lar de idosos, onde aquele dia Misael
estava fazendo uma boa ação.
- Amiga, onde você esta? – falava Misael ao telefone com
Antônia – sei, sei, mas vem? Ah sim, então ficarei esperando. – Ao desligar o
telefone, Misael e Fernanda ficaram cara a cara.
- Que posso ajudar? – perguntou Misael
- Não sei, eu que deveria perguntar isso não é?
- Nossa Fernanda, você ajudando entidades carentes é nova
pra mim.
- Porque a ironia?
- Porque você sempre foi a mais burra da escola!
- O que? Porque essa ofensa?
- Não vou com a sua cara. Agora se você me dá licença... –
Misael saiu falando, e Fernanda tinha jogado toda sua autoconfiança no lixo de
medo da bicha. Ela não conseguiu dar um pio. Mais tarde ela e Ulysses estavam
jantando em um restaurante da cidade, com Ulysses também ela havia travado.
TRAVADO totalmente. Ela não se conformava com aquilo. E o seu celular pipocava
mensagens de Emiliana do tipo: Já abriu o jogo? Já acabou com o viadinho? Já
fez tudo que deveria fazer? Por favor não amarele!
Fernanda estava deprimida. Totalmente deprimida.
- Como foi seu dia? – começou ela um dialogo intro
- Foi chato. E o seu?
- Foi bom. Fui até...- Ulysses olhou pra porta, e Fernanda
notou o olhar dele de paixão, quando ela virou era Misael entrando – o lar de
idosos...
- É? – ele começa a comer a pizza e de vez em sempre dar
umas olhadas pra Misael – E foi bom?
- Sim. Ajudei os velhinhos!
- Que bom!
- Porque você esta distante?
- Eu? Distante? Porque?
- Eu que perguntei primeiro Ulysses. Parece que foi pro
mundo da lua!
- Não consigo entender o que você diz.
- Porque você me ignora? Ontem te liguei....
- Fernanda, não te disseram que eu trabalho?
- Eu também! Eu também! Mas você nunca tem tempo pra gente,
toda vida tem algo pra fazer, isso desde quando nos conhecemos!
- Tô perdendo a fome, sério...
- Perdeu a fome porque? Só se foi a da pizza né? Porque...
porque...
- Porque? – perguntou Ulysses se fazendo de desentendido
- Vou embora!
- Que?
- É Ulysses, vou pra casa.
E se levantou. E partiu. E Ulysses não entendeu nada, mas
não a seguiu. Quando desceu as escadas do restaurante, Fernanda esperou,
esperou e nada do namorado vir atrás. E foi aí que ela começou a repensar em
tudo. Ela fez uma auto avaliação de todo o relacionamento. Antes de Emiliana
jogar a bomba, ela nunca havia notado as faltas que Ulysses fazia. Muito pelo
contrário, ela sempre relevava os treinos de futebol, as tardes chuvosas em que
ele ficava na academia, e tudo que pela cabeça nunca passou.
Como deve ser o coração de um traído? Como deve ser a dor de
quem é traído? Como deve sobreviver a isso, um traído?
Todas essas perguntas começaram a fluir. E enquanto Emiliana
pensava em algo para recuperar seu noivado fracassado, e acabar com Antônia.
Fernanda pensava somente numa coisa. A corda da balança que ficava no parquinho
da cidade. E foi pra lá que ela foi. Sem pestanejar.